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A importância das vísceras no tratamento da diástase dos retos abdominais e pq o instrutor de Pilates precisa saber...

Por Janaína Cintas


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A diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) é uma condição comum, especialmente em mulheres no pós-parto, caracterizada pelo afastamento da linha alba e pela perda da função tensional da parede abdominal. Embora frequentemente abordada sob a perspectiva músculo-esquelética, a atuação visceral no contexto da diástase ainda é subestimada por muitos profissionais. No entanto, o correto reposicionamento e funcionamento dos órgãos viscerais são fundamentais para o sucesso terapêutico e a recuperação funcional do centro de força corporal, o Power House.


As vísceras como estruturas ativas na estabilidade abdominal


As vísceras não são apenas “ocupantes de espaço” na cavidade abdominal. Elas estão em íntima relação com o sistema miofascial e com os mecanismos de controle da pressão intra-abdominal. Estruturas como o útero, intestinos, fígado e bexiga se relacionam com a fáscia visceral e com os ligamentos de suspensão, que por sua vez se conectam às fáscias parietais e aos músculos da parede abdominal e do assoalho pélvico.


Essas conexões criam cadeias fisiológicas de força e sustentação. Quando há ptoses viscerais (órgãos que perderam sua posição e descem na cavidade), esse equilíbrio é rompido. A consequência é uma sobrecarga mecânica sobre o tecido da linha alba, dificultando ou até impedindo a recuperação da diástase mesmo diante de estímulos musculares adequados.


Função respiratória, pressão intra-abdominal e sinergia visceral


O restabelecimento da função diafragmática, essencial na ginástica hipopressiva, depende do correto posicionamento visceral. Vísceras mal posicionadas podem limitar a excursão do diafragma, alterando o gradiente de pressão intra-abdominal e prejudicando o tônus reflexo da musculatura profunda do tronco, especialmente transverso do abdome e multífidos.

Além disso, a fáscia visceral funciona como um sistema sensorial altamente inervado, influenciando a propriocepção e a modulação da dor. Isso justifica a presença de sintomas difusos em muitas pacientes com diástase, como desconfortos lombares, pélvicos e digestivos, que não respondem à reabilitação convencional.


Abordagem terapêutica integrativa: além do músculo


O tratamento da DMRA deve ir além do fortalecimento abdominal. É necessário incluir:

  • Liberação visceral e fascial: técnicas manuais que promovem o reposicionamento e a mobilidade das vísceras, melhorando o equilíbrio tensional entre estruturas.

  • Reeducação respiratória e postural: que favoreçam o retorno da função diafragmática e o controle da pressão interna.

  • Treino funcional com ativação do Power House: Onde os músculos estabilizadores (transverso, assoalho pélvico, multífidos e diafragma) trabalham em sinergia com o conteúdo visceral para criar um centro estável de força.


Conclusão

As vísceras exercem um papel ativo e determinante no sucesso do tratamento da diástase. Ignorar sua influência é reduzir a complexidade do corpo humano a uma lógica exclusivamente muscular. Uma visão integrativa, baseada na inter-relação entre músculos, fáscias e vísceras, proporciona tratamentos mais eficazes e duradouros, além de oferecer uma compreensão mais profunda do funcionamento do Power House e da biomecânica do centro do corpo.

 
 
 

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