O Teaser no Pilates
- Janaína Cintas
- 30 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de jun.
Um exercício avançado ou uma progressão mal compreendida?
Janaína Cintas

Um dos maiores equívocos na aplicação clínica do método Pilates é a crença de que certos exercícios — como o Teaser — são restritos apenas a alunos avançados, com alto nível de força, controle motor e flexibilidade.
A consequência prática dessa visão é o abandono precoce da proposta pedagógica do método, limitando a progressão funcional de muitos alunos.
Entre os argumentos mais comuns está a ideia de que, se o aluno “não consegue subir” no Teaser, isso indica que ele ainda “não está pronto”. No entanto, ao observarmos o exercício sob a lente da biomecânica e do controle motor, percebemos que essa dificuldade é menos sobre o nível do aluno e mais sobre a ausência de um processo técnico de construção do movimento.
Fundamentos biomecânicos do Teaser
O Teaser exige, simultaneamente:
✅ Mobilidade toracolombar associada à estabilização lombo-pélvica ativa
A flexão controlada da coluna no plano sagital requer coordenação segmentar e ativação da musculatura profunda. Essa ativação permite que a flexão ocorra com distribuição do movimento entre os segmentos vertebrais, minimizando compensações e sobrecargas.
✅ Dissociação ativa de quadril
O exercício depende de uma flexão de quadril com mínima compensação lombar. Isso exige controle neuromuscular dos flexores do quadril e, ao mesmo tempo, mobilidade ativa da cadeia posterior, com ênfase no alongamento funcional dos isquiotibiais e organização da pelve.
✅ Controle excêntrico do tronco
A subida do tronco a partir do solo exige ativação excêntrica dos músculos abdominais, especialmente o reto abdominal e os oblíquos. Mais do que força máxima, é necessário controle de velocidade, coordenação e estabilidade dinâmica.
Esses componentes biomecânicos são todos treináveis, desde que haja uma sequência de progressões bem estruturada e adaptada à realidade motora do aluno. O problema não é o exercício ser avançado. O problema é a ausência de uma construção pedagógica baseada em avaliação e progressão consciente.
Implicações clínicas:
A não execução do Teaser por parte do aluno não deve ser vista como uma limitação permanente, mas como um sinal de que os pré-requisitos motores ainda não foram desenvolvidos. Para isso, é necessário que o instrutor:
🔹Avalie a mobilidade torácica e a organização segmentar da coluna;
🔹 Teste a dissociação de quadril com estabilidade lombar ativa;
🔹 Observe padrões compensatórios, como uso excessivo dos flexores cervicais ou rigidez lombopélvica;
🔹 Estimule o controle concêntrico com exercícios intermediários e de alavanca reduzida;
🔹 Utilize estratégias de feedback para facilitar o aprendizado motor.
O Teaser não deve ser tratado como um objetivo inalcançável, reservado apenas a corpos naturalmente “fortes”. Ele é, na verdade, uma ferramenta valiosa de diagnóstico funcional, integração de cadeias musculares e desenvolvimento do controle motor.
Quando abordado com embasamento biomecânico, ele deixa de ser uma barreira e se torna um marco no progresso técnico do aluno — um reflexo direto da qualidade do ensino aplicado.
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Jana Cintas
Referências bibliográficas:
A flexão controlada da coluna no plano sagital requer coordenação segmentar e ativação da musculatura profunda. Essa ativação permite que a flexão ocorra com distribuição do movimento entre os segmentos vertebrais, minimizando compensações e sobrecargas (Marshall & Murphy, 2006).
. A literatura demonstra que o controle excêntrico do core está diretamente relacionado à prevenção de lesões e desempenho funcional (Hibbs et al., 2008).
Utilize estratégias de feedback para facilitar o aprendizado motor (Shumway-Cook & Woollacott, 2012).
Hibbs, A. E., Thompson, K. G., French, D. N., Wrigley, A., & Spears, I. R. (2008). Optimizing performance by improving core stability and core strength. Sports Medicine, 38(12), 995–1008. https://doi.org/10.2165/00007256-200838120-00004
Marshall, P. W., & Murphy, B. A. (2006). Evaluation of functional and neuromuscular changes after core stability exercises. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, 29(7), 539–544. https://doi.org/10.1016/j.jmpt.2006.06.003
Shumway-Cook, A., & Woollacott, M. H. (2012). Motor control: translating research into clinical practice (4th ed.). Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins
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