Pilates na osteoartrose de joelho: o jeito certo e o jeito errado de abordar o movimento clínico
- Janaína Cintas
- 18 de jul.
- 4 min de leitura
por Janaína Cintas

A osteoartrose de joelho (OA) é uma das condições musculoesqueléticas mais prevalentes entre adultos e idosos, sendo responsável por altos índices de dor crônica, limitação funcional e afastamento das atividades diárias. Com o envelhecimento da população e o aumento da busca por métodos terapêuticos não farmacológicos, é natural que o Pilates tenha se tornado uma opção cada vez mais presente na reabilitação desses pacientes.
No entanto, a presença da OA nas aulas de Pilates exige atenção e critérios clínicos claros. Isso porque muitos alunos chegam sem diagnóstico formal, mas já apresentam sinais evidentes de dor, rigidez matinal, limitações de carga e alteração da marcha. A atuação do profissional do movimento nesse cenário pode tanto gerar alívio e melhora funcional quanto agravar o quadro, quando conduzida de forma inadequada.
Este artigo propõe uma reflexão técnica sobre os principais equívocos ainda presentes na prática clínica com Pilates, contrastando-os com estratégias baseadas em evidências e nas demandas funcionais reais do paciente com OA.
Os erros mais comuns na condução de casos com OA
Um dos erros mais recorrentes na condução de aulas com alunos que apresentam osteoartrose de joelho é a aplicação de repertórios generalistas, sem uma avaliação funcional prévia. Frequentemente, exercícios visualmente atraentes, mas pouco adaptados à realidade clínica do aluno, são utilizados como padrão. Isso inclui agachamentos profundos sem controle, movimentos em cadeia cinética aberta com sobrecarga, e variações de desequilíbrio postural que exigem mais do que o corpo é capaz de oferecer naquele momento.
Outro equívoco importante é o foco excessivo em ganho de amplitude, muitas vezes sem que haja controle articular suficiente para sustentar esse movimento. A hipermobilidade passiva, em articulações instáveis ou com dor, pode gerar mais desconforto e insegurança ao paciente, além de reforçar padrões compensatórios que agravam o quadro.
Também é comum observar a negligência de sinais clínicos simples, como dor ao levantar-se da cadeira, apoio excessivo nos membros superiores para se locomover, marcha assimétrica ou redução da base de apoio. Esses sinais, embora discretos, são indicadores importantes de perda de função e devem nortear a escolha dos exercícios, sua intensidade e progressão.
A abordagem ideal com Pilates clínico
A atuação segura e eficaz com Pilates em casos de osteoartrose de joelho começa por uma avaliação funcional criteriosa. Antes de escolher qualquer exercício, é necessário observar a forma como o aluno realiza movimentos básicos do dia a dia, como sentar e levantar, subir degraus ou manter-se em apoio unipodal. Testes simples podem indicar se o foco inicial deve estar em mobilidade, estabilidade ou descarga articular.
Ao invés de priorizar força ou amplitude, o raciocínio clínico deve considerar o que o corpo é capaz de realizar com segurança naquele momento. Em muitos casos, exercícios em cadeia cinética fechada, com descarga parcial de peso, serão mais adequados no início da abordagem. A flexão e extensão de joelho em decúbito dorsal, com os pés apoiados sobre uma bola ou superfície deslizante, é um exemplo de mobilização ativa com baixo impacto, que respeita a dor e reintroduz o padrão funcional de movimento.
Outro ponto essencial é integrar a lógica das cadeias musculares na seleção dos exercícios. A OA afeta diretamente a cadeia extensora posterior e o controle postural global, por isso a atuação local no joelho deve ser acompanhada de estratégias que envolvam quadril, tronco e tornozelos. A estabilidade pélvica, por exemplo, influencia diretamente na absorção de carga no apoio unipodal e na mecânica de marcha, e deve ser incluída no planejamento terapêutico.
Por fim, a progressão de exercícios deve considerar a tolerância articular, o tempo de resposta aos estímulos e o contexto funcional do aluno. O Pilates permite adaptar cargas, amplitudes e superfícies de apoio de forma precisa, desde que o profissional compreenda a lógica por trás do que está sendo proposto.
Considerações finais
A osteoartrose de joelho não é apenas uma dor localizada, mas um distúrbio do movimento com repercussões em todo o corpo. A atuação do instrutor de Pilates precisa ir além da articulação, considerando padrões compensatórios, integração sensório-motora e, principalmente, as necessidades reais do paciente.
Evitar abordagens generalistas e compreender os limites funcionais do aluno são passos fundamentais para garantir segurança, eficácia e evolução clínica. O Pilates, quando bem aplicado, é uma ferramenta potente de reabilitação, desde que utilizado com consciência e critérios técnicos claros.
Referências bibliográficas
Hunter & Bierma-Zeinstra (2019) – The Lancet: revisão sobre osteoartrose como causa global de dor e incapacidade; destaca o exercício como intervenção chave.
Juhl et al. (2014) – Arthritis & Rheumatology: meta-análise mostra eficácia de exercícios supervisionados na dor e função em OA de joelho.
Calatayud et al. (2017) – J Back Musculoskelet Rehabil: reforça a importância do controle motor no tratamento de dores musculoesqueléticas.
Souza et al. (2010) – Clinical Biomechanics: mostra relação entre função do pé e evolução clínica em pacientes com OA de joelho.
Felson (2006) – New England Journal of Medicine: artigo clínico clássico sobre diagnóstico e manejo conservador da osteoartrose de joelho.
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