Por que o seu aluno não evolui mesmo fazendo “tudo certo”?
- Janaína Cintas
- 23 de mai.
- 3 min de leitura
A biomecânica pode explicar
Você prepara a aula, escolhe os exercícios com critério, orienta com clareza, corrige a execução e mesmo assim... o aluno não melhora.
A dor continua ali. A instabilidade não cede. A performance não evolui.
Esse tipo de cenário é frustrante para qualquer profissional do movimento — especialmente para quem se dedica, estuda e entrega tudo o que sabe. Mas talvez o problema não esteja na execução do exercício. E sim na forma como você interpreta o que está acontecendo com o corpo do seu aluno.
É nesse ponto que entra a biomecânica.
Biomecânica: a lógica por trás do movimento
A biomecânica é a ciência que estuda o movimento humano com base nas leis da física, nos vetores de força e nos comportamentos articulares e musculares. Aplicada ao Pilates, ela se torna um instrumento clínico de avaliação e intervenção, permitindo que o instrutor compreenda com mais precisão:
Como o movimento está sendo produzido;
Quais estruturas estão sendo solicitadas (e sobrecarregadas);
Que padrões compensatórios estão ativos — mesmo quando invisíveis a olho nu.
Com isso, é possível selecionar, adaptar e aplicar os exercícios com um grau de assertividade que vai além da estética do movimento.
“Está tudo certo… mas o aluno continua com dor”
Um dos maiores riscos da atuação sem biomecânica é interpretar o movimento apenas pela aparência.
Vamos a um exemplo prático: o aluno executa o Shoulder Bridge com controle, ritmo e alinhamento aparente. Mas se não há ativação eficaz do glúteo máximo, e o movimento é sustentado majoritariamente pelos isquiotibiais e pela musculatura lombar, o resultado esperado — como estabilidade lombopélvica ou reorganização da cadeia posterior — não será atingido.
Pior: pode haver agravamento da dor lombar, ou reforço de um padrão disfuncional.
É por isso que ensinar certo não basta. É preciso saber por que aquele exercício está sendo feito, como está sendo executado internamente, e o que ele está gerando como resposta no corpo do aluno.
Mas eu preciso ser fisioterapeuta para entender biomecânica?
Essa é uma objeção comum — e completamente infundada.
A biomecânica não é um campo exclusivo da reabilitação, nem restrito a quem tem formação acadêmica em saúde. Ela pode (e deve) ser ensinada de forma acessível e aplicada à prática de quem trabalha com o movimento, especialmente no contexto do Pilates.
Com base em vetores, cadeias musculares, alavancas e torques, qualquer instrutor pode desenvolver raciocínio clínico-funcional, mesmo sem utilizar linguagem técnica complexa.
E quanto mais o profissional compreende essas relações, mais segurança ele tem para avaliar, prescrever, ajustar e — principalmente — resolver o que antes parecia sem solução.
Sem biomecânica, o Pilates pode se tornar genérico
Quem não domina os fundamentos biomecânicos tende a aplicar exercícios de forma padronizada, repetindo séries que funcionaram com outros alunos, mas sem entender o porquê.
Esse tipo de prática compromete os resultados, principalmente em casos de:
Dor lombar recorrente;
Instabilidade pélvica;
Disfunções escapulares;
Diástase abdominal;
Compensações crônicas.
Por outro lado, quando o instrutor domina a biomecânica, ele adquire capacidade analítica e autonomia técnica para resolver esses quadros com segurança, evitando abordagens genéricas e agindo diretamente sobre as causas do problema.
Conclusão
A ausência de progresso do aluno não deve ser vista apenas como limitação dele — mas como um sinal de que a abordagem precisa ser mais profunda e fundamentada.
A biomecânica não é um detalhe avançado. É a base que sustenta uma atuação clínica eficaz.
Mais do que ensinar exercícios corretos, é necessário entender como o corpo responde a eles. Mais do que aplicar técnicas, é preciso ler o movimento com critério técnico e raciocínio funcional.
Quem integra a biomecânica ao Pilates transforma sua atuação — e, com ela, o resultado dos seus alunos.
Referências Bibliográficas
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