Cadeias Musculares, Pilates e Cervicalgia:
- Janaína Cintas
- 18 de abr.
- 3 min de leitura
Uma abordagem integrativa para reequilíbriopostural e alívio de dores cervicais no Pilates

A cervicalgia é uma das queixas musculoesqueléticas mais frequentes em consultórios de
fisioterapia e estúdios de Pilates clínico. Caracteriza-se por dor na região cervical,
frequentemente associada à rigidez, limitação de movimento e irradiações para ombros e
membros superiores. Embora o foco da dor esteja na região cervical, a abordagem
terapêutica eficaz depende de uma compreensão mais ampla: a integração do sistema de
cadeias musculares.
O corpo humano se organiza a partir de cadeias miofasciais que transmitem tensões e
compensações ao longo de sua estrutura. A dor localizada pode ser resultado de
desequilíbrios acumulados em regiões à distância. No caso da cervicalgia, é comum
observar padrões de encurtamento na cadeia de flexão anterior e na cadeia cruzada
anterior, compostas por músculos como esternocleidomastoideo, escalenos, peitoral maior e
subclávio. A ativação crônica dessas cadeias, especialmente em posturas sustentadas,
como a posição sentada prolongada ou o uso excessivo de dispositivos móveis, contribui
para sobrecarga mecânica nas vértebras cervicais.
Por outro lado, as cadeias posteriores — especialmente a cadeia posterior superficial e os
estabilizadores profundos — frequentemente apresentam padrão de tensão reativa ou
fadiga funcional, incluindo músculos como trapézio superior, elevador da escápula e
paravertebrais cervicais. O desequilíbrio entre essas cadeias promove deslocamentos
posturais, como a anteriorização da cabeça, elevação dos ombros, retificação cervical e
alterações na biomecânica da cintura escapular.
Durante a avaliação postural, é fundamental observar a relação entre o eixo craniocervical e
a organização global do tronco. Sinais como respiração superior torácica, hipotonia
abdominal, encurtamento de flexores de quadril e rotação compensatória de ombros
indicam a presença de um padrão de disfunção mais amplo, frequentemente associado às
cadeias ântero-mediana, cruzada anterior e cadeia de flexão.
Autores como Busquet, Souchard e Myers sustentam a importância da integração fascial e
muscular na manutenção do equilíbrio postural. No contexto clínico, isso implica que a dor
cervical não deve ser tratada de forma isolada, mas sim compreendida como um efeito de
tensões distribuídas por todo o sistema miofascial.
Na prática, intervenções baseadas em cadeias musculares buscam liberar os pontos de
tensão global, reorganizar o centro de gravidade e promover simetria funcional. Técnicas
como liberação miofascial, reeducação postural global (RPG), ginástica hipopressiva e
Pilates com lógica de cadeias são ferramentas importantes nesse processo. Exercícios que
promovem dissociação craniocervical, controle respiratório, alongamento global ativo e
ativação abdominal profunda contribuem para o reequilíbrio da cadeia anterior e redução da
sobrecarga cervical.
Ao longo da minha atuação clínica e acadêmica, pude observar que a abordagem baseada
em cadeias musculares amplia significativamente os resultados terapêuticos, promovendoalívio da dor, melhora da função e autonomia do paciente. No livro “Cadeias Musculares do
Tronco” (Sarvier, 2015), apresento em detalhes os principais trajetos de tensão muscular e
suas implicações biomecânicas, com foco especial na região cervicotorácica.
Entender a cervicalgia como expressão de um sistema global de desequilíbrios é o primeiro
passo para intervir de forma precisa, resolutiva e duradoura. Ao integrar conhecimento
anatômico, biomecânico e funcional, conseguimos atuar com mais segurança e eficácia,
especialmente no contexto do Pilates clínico e da fisioterapia baseada em evidências.

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Referências bibliográficas:
Cintas, J. Cadeias Musculares do Tronco. São Paulo: Sarvier, 2015.
Myers, T. Anatomy Trains: Myofascial Meridians for Manual and Movement Therapists, 3ª
ed.
Souchard, P.E. Reeducação Postural Global (RPG).
Busquet, L. Cadeias Musculares e Articulares.
Kendall, F.P. Músculos: Provas e Funções com Postura e Dor, 5ª ed.
World Health Organization. Global musculoskeletal health report, 2023.
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