Pilates Clínico e Cadeias Musculares na Tendinopatia Glútea: uma nova visão sobre dor lateral no quadril
- Janaína Cintas
- há 17 horas
- 3 min de leitura
A dor lateral do quadril, muitas vezes diagnosticada como bursite trocantérica, tem sido
cada vez mais reconhecida como parte de um quadro maior: a tendinopatia dos músculos
glúteo médio e mínimo, também conhecida como Síndrome da Dor Trocantérica Maior
(SDTM). Embora seja comum, especialmente em mulheres a partir dos 40 anos, seu
tratamento ainda é muitas vezes centrado exclusivamente no local da dor, sem considerar
os fatores biomecânicos e miofasciais que perpetuam o quadro.
Na prática clínica, observo que pacientes com esse tipo de dor geralmente apresentam
desequilíbrios em cadeias musculares que envolvem muito mais do que a pelve.
Alterações no controle postural, na organização da marcha, na rotação do tronco e na
função respiratória são componentes frequentemente negligenciados, mas essenciais para
a recuperação funcional e o alívio da dor.
Segundo a abordagem das cadeias musculares descrita em Cadeias Musculares do
Tronco (Cintas, 2015), o corpo humano opera como um sistema integrado de tensões
fasciais. Um encurtamento na cadeia ântero-mediana ou na cadeia cruzada anterior, por
exemplo, pode deslocar o centro de gravidade, sobrecarregar a pelve lateralmente e levar a
uma compensação crônica no glúteo médio.
Essas compensações se acentuam durante o apoio unipodal, a marcha e os exercícios que
exigem dissociação de quadril. Quando não há uma base estável no tronco e no core
profundo, a pelve busca estabilização excessiva nos músculos laterais do quadril — o que,
ao longo do tempo, gera microtraumas e inflamação nos tendões glúteos.
É nesse ponto que o Método Pilates, associado ao raciocínio de cadeias musculares, se
apresenta como uma abordagem altamente eficaz.
No processo de avaliação, é fundamental investigar:
●Padrão de marcha com apoio lateral instável
●Inclinação ou rotação compensatória do tronco
●Hipotonia da musculatura abdominal profunda
●Rigidez toracolombar unilateral
●Padrão respiratório superior
●Perda de dissociação coxo-femoral
Esses fatores indicam que o corpo está sustentando a dor por meio de um padrão postural
vicioso, e que tratar apenas o tendão afetado é insuficiente.A partir disso, estruturamos um plano de intervenção baseado em:
1. 2. 3. 4. 5. Liberação da cadeia cruzada posterior e posterior superficial para melhorar a
mobilidade global
Reeducação respiratória e ativação do transverso abdominal e assoalho pélvico
(cadeia ântero-mediana)
Exercícios com dissociação de cinturas e estímulo ao controle da pelve durante o
apoio unilateral
Trabalho de marcha funcional com controle consciente de tronco e quadril
Uso progressivo dos aparelhos de Pilates com foco em estabilidade dinâmica e
reequilíbrio miofascial
Diferentemente do modelo de reabilitação isolada, o Pilates Clínico — quando guiado por
uma lógica de cadeias musculares — oferece não apenas alívio da dor, mas uma
reorganização profunda do padrão de movimento e sustentação corporal.
A tendinopatia glútea, nesse sentido, deixa de ser um problema do quadril e passa a ser
compreendida como um reflexo da organização corporal como um todo.
No Curso Cadeias Musculares no Pilates, aprofundo esse raciocínio clínico com base na
anatomia funcional, nos trajetos fasciais e nos pontos de reorganização postural. Se você
deseja compreender melhor essas conexões e atuar com mais precisão nos seus
atendimentos, este conteúdo é para você.
Referências bibliográficas
Cintas, J. Cadeias Musculares do Tronco. São Paulo: Sarvier, 2015.
Grimaldi, A. Assessment and management of gluteal tendinopathy. Journal of Orthopaedic
& Sports Physical Therapy, 2016.
Myers, T. Anatomy Trains, 3ª ed.
Souchard, P.E. RPG – Reeducação Postural Global.
Selkowitz, D. et al. Gluteal Muscle Activation During Common Therapeutic Exercises. J
Orthop Sports Phys Ther, 2013.
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